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REPORTE DE CASO
Revista Médica Vozandes
Volumen 31, Número 2, 2020
Introdução
O seio maxilar é uma estrutura anatômica pneumatizada
e localizada na região anterior da maxila bilateralmente.
Essa estrutura é também conhecida como uma cavidade
paranasal por estar localizada lateralmente à fossa nasal,
seu assoalho frequentemente situa-se 0,5 a 1,5 cm abaixo
da cavidade nasal. O mesmo é responsável por ltrar o
ar inspirado, aquecê-lo, aliviar o peso do crânio, aliviar
impacto em possíveis traumas e dar ressonância à voz. É
considerado o maior seio paranasal pois, frequentemente,
possui grande volume quando comparado aos demais
seios, além de por vezes exibir fragilidade capilar e íntima
relação com as raízes dos molares e pré-molares superiores
e, por este motivo, oferece risco a complicações cirúrgicas,
tais como, a comunicação bucossinusal e o deslocamento
de raízes, dentes, implantes e corpos estranhos para o seu
interior
(1)
.
Anatomicamente possui formato piramidal quadrangular,
no qual seu ápice encontra-se voltado ao processo
zigomático da maxila, tendo volume médio, em um
paciente adulto, de 14 cm
3
de acordo com Ariji e
colaboradores (1994) . Em até 26,5% dos pacientes pode
possuir septos e cristas em seu interior, encontrados com
maior frequência em sua porção média
(2)
.
Histologicamente é revestido por um epitélio respiratório,
ou seja, epitélio pseudo-estraticado colunar, ciliado e
mucossecretor, considerado, por vezes, um revestimento
mucoperiosteal
(2,3)
.
Para Cerqueira
(3)
o deslocamento de corpos estranhos
para o interior do seio é pouco comum e pouco relatado,
visto que um terço dos casos não são diagnosticados
imediatamente. Quando presente, as principais causas
são traumas em face e iatrogenias em procedimentos
cirúrgicos odontológicos.
A região posterior da maxila é a mais acometida durante
procedimentos cirúrgicos, devido à proximidade das raízes
de molares superiores, por vezes já pneumatizado. Tal
acometimento se intensica também devido à qualidade
óssea da maxila, que se apresenta predominantemente
medular e com pouca espessura de osso cortical,
determinando um aspecto poroso, principalmente em
pacientes jovens
(4)
.
No deslocamento de raízes ou elementos contaminados,
seja por lesões periapicais ou doença periodontal, o risco
de infecção sinusal é maior que quando comparado aos
deslocamentos de elementos hígidos, podendo gerar
reabsorção óssea circunjacente e reação inamatória
no seio maxilar (sinusite), produção excessiva de muco,
dor em região periorbitária, halitose, tumefação, coriza e
presença de fístula bucosinusal. Esses sintomas geralmente
se tornam crônicos, apresentando também episódios
agudos recorrentes
(3,4)
.
Alguns exames de imagem são opções viáveis para
localização de corpo estranho e para a realização de um
planejamento cirúrgico adequado. A ortopantomograa,
a incidência de Waters e a perl de face podem ser
empregadas, no entanto, a tomograa computadorizada
de face oferece uma imagem tridimensional, possibilitando
avaliação e conduta mais apropriada
(1,3)
.
O acesso ao seio maxilar é realizado mais comumente
pela técnica de Caldwell-Luc, que foi desenvolvido
em 1890 por George Caldwell nos Estados Unidos e
Henri Luc na França. O acesso é realizado através da
osteotomia da parede anterior, permitindo assim a
inspeção do interior do antro e remoção de corpos
estranhos. Complicações inerentes a utilização desta
técnica são poucos comuns, porém quando presentes
podem incluir: assimetria facial, lesão nervosa,
desvitalização dentária e fístulas oroantrais
(1,3)
.
A era digital na odontologia tem sido uma realidade
para diversas especialidades, tal como a ortodontia,
prótese e cirurgias ortognáticas. Recursos digitais
e fotograas em 3D tem dado maiores opções
de tratamento e oferecido planejamentos de
melhor qualidade. A utilização destes recursos
pode oferecer maior previsibilidade e conforto ao
paciente
(5)
.
Desta forma, o objetivo do estudo é relatar um
caso clínico de remoção cirúrgica de um terceiro
molar superior, no interior do seio maxilar, pela
técnica de acesso caldwell-luc, com auxílio de
um guia cirúrgico, com objetivo de orientar o
acesso ao corpo estranho de forma rápida e
minimamente invasiva, proporcionando uma
cirurgia mais segura. O artigo segue as diretrizes
CARE para o relato de casos
(6)
.
Relato de caso
Paciente AGN, gênero masculino, 17 anos de
idade, procedente de São Luís do Maranhão,
buscou atendimento com a equipe de Cirurgia
e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital
Clementino Moura, após ter observado, junto ao
cirurgião-dentista, um “corpo estranho” na região
anatômica correspondente ao seio maxilar direito,
através de achados imaginológicos de rotina
solicitado para início de tratamento ortodôntico.
O trabalho foi realizado após aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa da sob o CAAE número
26029819.1.0000.5084.
O mesmo não relatava queixas inerentes a condição
em que foi observada. Na anamnese o paciente
relatou ter sido submetido à tentativa de extração
do terceiro molar superior direito (elemento 18) há
mais ou menos um ano sem sucesso, neste período
não houve nenhum sintoma relatado pelo paciente.
O histórico familiar do paciente em questão não
mostrou nenhum dado associado a comorbidades,
alergias ou doenças tumorais.
Ao exame físico extra oral não foi observada
nenhuma alteração digna de nota. Ao exame
intra oral, o paciente apresentava-se parcialmente
dentado inferior e superior, lábios corados, abertura
bucal satisfatória, mucosa intra oral apresentando
coloração normal e sem sinais de inamação e/ou
infecção.
Ao exame tomográco evidenciou-se uma área
hiperdensa na região referente ao seio maxilar
esquerdo com tamanho aproximado de 12mm