Revista Médica Vozandes
Volumen 33, Número 2, 2022
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RESUMO
O suicídio é denido como o ato voluntário e consciente de tirar
a própria vida e pode ser compreendido como resultado de uma
complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos,
sociais, culturais e ambientais. Afeta pessoas de quase todas as idades,
gerando um elevado custo social e econômico. Na América Latina, os
países como Guatemala, México, Chile, Brasil e Equador tiveram um
aumento percentual no número de suicídios entre 2000 e 2012. Os fatores
que levam ao suicídio são vários e as motivações são difíceis de serem
mensuradas, contudo, os principais aspectos são transtornos mentais,
fatores sociodemográcos e psicológicos, dor e doenças crônicas.
É importante destacar o momento da pandemia da COVID-19, que
aumentou os fatores de risco associados ao comportamento suicida
devido ao distanciamento social, perda de emprego, crise econômica
e outras questões que emergiram com a pandemia. Para que seja feito
um correto reconhecimento do risco de suicídio, é necessário, além de
instrumentos voltados a um diagnóstico mais preciso de ideações e de
tentativas, a determinação de fatores preditivos e protetores, de modo
a facilitar a prevenção. É possível prevenir o suicídio, e na maior parte
das vezes pode ser uma morte evitável, identicando e intervindo nos
fatores de risco e implantando estratégias adequadas baseadas em
evidencias cienticas.
ABSTRACT
Suicide is dened as the voluntary and conscious act of taking one’s
own life and can be understood as the result of a complex interaction
of biological, genetic, psychological, social, cultural and environmental
factors. It affects people of almost all ages, generating a high social and
economic cost. In Latin America, countries like Guatemala, Mexico, Chile,
Brazil and Ecuador had a percentage increase in the number of suicides
between 2000 and 2012. The factors that lead to suicide are many and
the motivations are difcult to measure, however, the main ones aspects
are mental disorders, sociodemographic and psychological factors,
pain and chronic diseases. It is important to highlight the timing of the
COVID-19 pandemic, which increased risk factors associated with suicidal
behavior due to social distancing, job loss, economic crisis and other issues
that emerged with the pandemic. In order to correctly recognize the
risk of suicide, it is necessary, in addition to instruments aimed at a more
accurate diagnosis of ideations and attempts, to determine predictive
and protective factors, in order to facilitate prevention. It is possible to
prevent suicide, and in most cases it can be an avoidable death, by
identifying and intervening in risk factors and implementing appropriate
strategies based on scientic evidence.
EDITORIAL
SUICÍDIO: DESAFIO FRENTE AO MUNDO ATUAL.
SUICIDE: CHALLENGE FACING THE CURRENT WORLD.
1 SUPREMA. Faculdade de Ciências Médicas e da
Saúde de Juiz de Fora. Juiz de Fora, MG – Brasil.
ORCID ID:
Corrêa Jimilly Caputo
orcid.org/ 0000-0001-8694-4384
*Corresponding author: Caputo Corrêa Veríssi-
mo Jimilly
E-mail: jimillyc@hotmail.com
Corrêa Jimilly Caputo 1*
Este artículo está bajo una
licencia de Creative Com-
mons de tipo Reconocimien-
to – No comercial – Sin obras
derivadas 4.0 International.
Citation:
Corrêa JC. Suicídio: desafio frente ao mun-
do atual. Med Vozandes. 2022; 33 (2): 9 - 11
Received: 01 – Nov – 2022
Accepted: 14 – Dec – 2022
Publish: 01 – Jan – 2023
Article history
Conflict of interest: The author declares no
conict of interest.
Palabras clave: Suicídio; Tentativa de suicídio;
Política Pública; Fatores de risco; COVID-19.
Financial disclosure: The author has no nancial
relationships relevant to this article to disclose.
Keywords: Suicide; Suicide attempted; Public Policy;
Risk Factors; COVID-19
DOI: 10.48018/rmv.v33.i2.e
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Corrêa Jimilly C
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Devido ao distanciamento social, perda de emprego,
crise econômica e outras questões que emergiram
com a pandemia, houve maior risco de ideação do
suicídio; desta forma, uma maior preocupação com a
reorganização dos sistemas de saúde e uma resposta
rápida a questões relacionadas a saúde mental em
todo o mundo(6).
Ainda são poucos os estudos que abordam o suicídio
com a pandemia, menores ainda os que avaliam os
efeitos associados da pandemia com as medidas de
distanciamento social, o desenvolvimento das alterações
mentais e comportamentais potencializados a episódios
de ansiedade, depressão e risco de suicídio(2).
A importância da abordagem ao suicídio vem
crescendo, especialmente devido ao aumento das
ocorrências. Embora avanços tenham sido feitos no
desenvolvimento de modelos de práticas para o
rastreamento do comportamento suicida, avaliação
de risco, intervenções clínicas especícas e protocolos
de acompanhamento para indivíduos suicidas, ainda
são recentes os trabalhos com a prevenção do suicídio,
principalmente nos serviços de saúde(6). E conforme
a OMS(1), apenas 28 países têm uma estratégia
nacional de prevenção ao suicídio; onde é oferecido
acompanhamento psicológico, psicoterápico e
assistência psiquiátrica hospitalar, de forma a reduzir o
número de suicídio.
Nota-se que as tentativas de suicídio são ocialmente
menos registradas, em comparação ao ato consumado,
segundo publicação de Silva et al.(6), que os órgãos
ociais de registros e informações camuam os dados
e trazem uma realidade mais atenuada. Além disso,
a falta de preparo prossional no que se refere à
identicação dos fatores predisponentes ao suicídio, de
elaboração de ações especícas nos diferentes níveis
de atenção à saúde e de adequada noticação(6).
Para que seja feito um correto reconhecimento do
risco de suicídio, é necessário, além de instrumentos
voltados a um diagnóstico mais preciso de ideações e
de tentativas, a determinação de fatores preditivos e
protetores, de modo a facilitar a prevenção(6).
Destaque para uma importante ferramenta e sem custo
que pode ser usada nos serviços de saúde, é a avaliação
de risco de comportamento suicida, que pode ser feita
por meio da entrevista clínica, identicando fatores
predisponentes e de proteção(3). Esta avaliação pode
conter informações sobre a ideação e o planejamento
suicida, buscando a intensidade, bem como a
capacidade do indivíduo em conter tais impulsos; além
de identicar os fatores estressores e o acesso à rede de
suporte e apoio, como familiares, amigos, prossionais
psicólogos ou terapêuticos(3).
Outras formas de abordagens, que podem ser combinadas
com as abordagens citadas anteriormente, e que é
válida em momento de pandemia, são a telemedicina,
INTRODUÇÃO
O suicídio, conforme a Organização Mundial da Saúde
(OMS)(1), é denido como o ato voluntário e consciente
de tirar a própria vida; podendo ser compreendido
como resultado de uma complexa interação de fatores
biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e
ambientais. E afeta pessoas de quase todas as idades,
gerando um elevado custo social e econômico. Ainda
de acordo com dados da OMS(1), o suicídio representa,
atualmente, a décima quinta principal causa de morte
na população global e a segunda mais frequente entre
adolescentes e jovens adultos(2).
No trabalho publicado por Aguiar et al.(3), conforme
dados da Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas), estima-se que aproximadamente 800 mil
pessoas suicidam anualmente, representando
mundialmente, em 2016, a segunda principal causa de
mortalidade em jovens de 15 a 29 anos. E para cada
indivíduo que comete suicídio, muitos outros realizam
tentativas. Ainda de acordo com a Opas(3), em 2019,
97.339 pessoas morreram por suicídio nas Américas e
estima-se que a tentativa de suicídio foi 20 vezes maior
que esse número. Entre 2000 e 2019, nas Américas as
taxas de suicídio aumentaram 17% demonstrando
crescimento relacionado as demais taxas globais(3).
De acordo com dados da OMS(1) na América Latina, os
países como Guatemala, México, Chile, Brasil e Equador
tiveram um aumento percentual no número de suicídios
entre 2000 e 2012; com o Brasil liderando em número
absoluto entre os países latino-americanos.
Os fatores que levam ao suicídio são vários e as
motivações são difíceis de serem mensuradas,
contudo, os principais aspectos apontados pela
literatura incluem transtornos mentais, destaque para a
depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade,
esquizofrenia e uso de substâncias psicoativas; fatores
sociodemográcos e psicológicos, como o bullying e
problemas familiares; dor e doenças crônicas(4, 5).
Na pesquisa desenvolvida por Rocha et al.(2) foi
constatado, assim como em outras projeções
epidemiológicas para o comportamento suicida, que
prevalecem pessoas do sexo feminino, desempregadas,
solteiras e com baixa renda familiar. A pesquisa realizada
por Aguiar et al.(3) ainda associa a tentativa de suicídio
com baixa escolaridade, depressão, insônia, história
familiar, o que é corroborado também pela literatura.
É importante destacar o momento da pandemia da
COVID-19, que aumentou os fatores de risco associados
ao comportamento suicida. Conforme estudo realizado
por Silva et al.(6) foram encontrados associação a
ideação suicida, tentativas de suicídio e risco de suicídio
com maiores níveis de estresse, ansiedade, medo de
ser infectado pelo coronavírus e piora na qualidade do
sono, nesse cenário da pandemia.
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aplicativos para smartphones e instrumentos baseados na
internet; pois conseguem unir cuidado em saúde mental com a
avaliação do risco de suicídio(7).
É importante destacar também que é possível prevenir o
suicídio, e na maior parte das vezes pode ser uma morte
evitável, por meio da identicação e intervenção dos fatores
de risco e implantação de estratégias adequadas baseadas
em evidencias cienticas(6).
O Ministério da Saúde colocou a prevenção ao suicídio
como uma prioridade e um desao para a saúde pública,
que é um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas
causas e determinações(7). Desta forma, ações integradas
de prevenção, vigilância, promoção da saúde e cuidados
relacionados ao suicídio tem sido desenvolvidos, contudo
ainda são insucientes os recursos humanos e nanceiros(7).
a necessidade de maior investimento, por meio dos serviços
de saúde, em um sistema de vigilância para o comportamento
suicida, buscando o cuidado integral, incluindo a educação
em saúde, a detecção e assistência precoces
da pessoa com comportamento suicida, o
atendimento digno e humanizado nos casos de
tentativa de suicídio e no acompanhamento
após a tentativa de suicídio (tanto para quem
tenta como para os familiares próximos), de
modo a prevenir a reincidência e recuperar
a saúde mental daquele indivíduo(5). Para tal
efetividade no tratamento é preciso investir em
equipamentos de saúde de forma a delizar e
acompanhar essas pessoas, para que sejam feitos
os devidos atendimentos e acompanhamentos(5).
Dessa forma, é necessário estudos e pesquisas
na área para maior esclarecimento e
abordagem do tema, auxiliando prossionais
de saúde e gestores no desenvolvimento
de intervenções e trazendo contribuições
signicativas para esse campo.
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