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Corrêa Jimilly C
Revista Médica Vozandes
Volumen 33, Número 2, 2022
Devido ao distanciamento social, perda de emprego,
crise econômica e outras questões que emergiram
com a pandemia, houve maior risco de ideação do
suicídio; desta forma, uma maior preocupação com a
reorganização dos sistemas de saúde e uma resposta
rápida a questões relacionadas a saúde mental em
todo o mundo(6).
Ainda são poucos os estudos que abordam o suicídio
com a pandemia, menores ainda os que avaliam os
efeitos associados da pandemia com as medidas de
distanciamento social, o desenvolvimento das alterações
mentais e comportamentais potencializados a episódios
de ansiedade, depressão e risco de suicídio(2).
A importância da abordagem ao suicídio vem
crescendo, especialmente devido ao aumento das
ocorrências. Embora avanços tenham sido feitos no
desenvolvimento de modelos de práticas para o
rastreamento do comportamento suicida, avaliação
de risco, intervenções clínicas especícas e protocolos
de acompanhamento para indivíduos suicidas, ainda
são recentes os trabalhos com a prevenção do suicídio,
principalmente nos serviços de saúde(6). E conforme
a OMS(1), apenas 28 países têm uma estratégia
nacional de prevenção ao suicídio; onde é oferecido
acompanhamento psicológico, psicoterápico e
assistência psiquiátrica hospitalar, de forma a reduzir o
número de suicídio.
Nota-se que as tentativas de suicídio são ocialmente
menos registradas, em comparação ao ato consumado,
segundo publicação de Silva et al.(6), já que os órgãos
ociais de registros e informações camuam os dados
e trazem uma realidade mais atenuada. Além disso,
há a falta de preparo prossional no que se refere à
identicação dos fatores predisponentes ao suicídio, de
elaboração de ações especícas nos diferentes níveis
de atenção à saúde e de adequada noticação(6).
Para que seja feito um correto reconhecimento do
risco de suicídio, é necessário, além de instrumentos
voltados a um diagnóstico mais preciso de ideações e
de tentativas, a determinação de fatores preditivos e
protetores, de modo a facilitar a prevenção(6).
Destaque para uma importante ferramenta e sem custo
que pode ser usada nos serviços de saúde, é a avaliação
de risco de comportamento suicida, que pode ser feita
por meio da entrevista clínica, identicando fatores
predisponentes e de proteção(3). Esta avaliação pode
conter informações sobre a ideação e o planejamento
suicida, buscando a intensidade, bem como a
capacidade do indivíduo em conter tais impulsos; além
de identicar os fatores estressores e o acesso à rede de
suporte e apoio, como familiares, amigos, prossionais
psicólogos ou terapêuticos(3).
Outras formas de abordagens, que podem ser combinadas
com as abordagens já citadas anteriormente, e que é
válida em momento de pandemia, são a telemedicina,
INTRODUÇÃO
O suicídio, conforme a Organização Mundial da Saúde
(OMS)(1), é denido como o ato voluntário e consciente
de tirar a própria vida; podendo ser compreendido
como resultado de uma complexa interação de fatores
biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e
ambientais. E afeta pessoas de quase todas as idades,
gerando um elevado custo social e econômico. Ainda
de acordo com dados da OMS(1), o suicídio representa,
atualmente, a décima quinta principal causa de morte
na população global e a segunda mais frequente entre
adolescentes e jovens adultos(2).
No trabalho publicado por Aguiar et al.(3), conforme
dados da Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas), estima-se que aproximadamente 800 mil
pessoas suicidam anualmente, representando
mundialmente, em 2016, a segunda principal causa de
mortalidade em jovens de 15 a 29 anos. E para cada
indivíduo que comete suicídio, muitos outros realizam
tentativas. Ainda de acordo com a Opas(3), em 2019,
97.339 pessoas morreram por suicídio nas Américas e
estima-se que a tentativa de suicídio foi 20 vezes maior
que esse número. Entre 2000 e 2019, nas Américas as
taxas de suicídio aumentaram 17% demonstrando
crescimento relacionado as demais taxas globais(3).
De acordo com dados da OMS(1) na América Latina, os
países como Guatemala, México, Chile, Brasil e Equador
tiveram um aumento percentual no número de suicídios
entre 2000 e 2012; com o Brasil liderando em número
absoluto entre os países latino-americanos.
Os fatores que levam ao suicídio são vários e as
motivações são difíceis de serem mensuradas,
contudo, os principais aspectos apontados pela
literatura incluem transtornos mentais, destaque para a
depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade,
esquizofrenia e uso de substâncias psicoativas; fatores
sociodemográcos e psicológicos, como o bullying e
problemas familiares; dor e doenças crônicas(4, 5).
Na pesquisa desenvolvida por Rocha et al.(2) foi
constatado, assim como em outras projeções
epidemiológicas para o comportamento suicida, que
prevalecem pessoas do sexo feminino, desempregadas,
solteiras e com baixa renda familiar. A pesquisa realizada
por Aguiar et al.(3) ainda associa a tentativa de suicídio
com baixa escolaridade, depressão, insônia, história
familiar, o que é corroborado também pela literatura.
É importante destacar o momento da pandemia da
COVID-19, que aumentou os fatores de risco associados
ao comportamento suicida. Conforme estudo realizado
por Silva et al.(6) foram encontrados associação a
ideação suicida, tentativas de suicídio e risco de suicídio
com maiores níveis de estresse, ansiedade, medo de
ser infectado pelo coronavírus e piora na qualidade do
sono, nesse cenário da pandemia.
SUICÍDIO: DESAFIO FRENTE AO MUNDO ATUAL