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Abstract
The creation of the Unied Health System (SUS) in 1988 was a milestone
in Brazil, establishing health care as a universal right and a duty of the
State, based on the principles of comprehensiveness, universality, and
equity. The Family Health Strategy (FHS), implemented in 1990 through
the NOB 96, has since become the central axis of Primary Health Care
(PHC), promoting local transformations through community bonds,
active listening, prevention, and health promotion. This editorial explores
the multifaceted role of the FHS in Brazilian health care, analyzing its
implementation methods, observed impacts on health indicators, and
ongoing challenges. PHC, with its multiprofessional and territorialized
approach, has proven crucial in reducing avoidable hospitalizations and
improving health outcomes such as life expectancy. However, persistent
regional inequalities remain, with the North and Northeast regions
exhibiting signicantly lower socioeconomic indicators and poverty rates
up to four times higher, affecting access to and continuity of care. The
decentralization of municipal management and the incorporation of
digital technologies, exemplied by the Citizen’s Electronic Health Record
(PEC), have brought important advances to the qualication of care
records and management, though they still require ongoing staff training.
Beyond the biomedical aspect, the FHS plays a vital psychosocial and
emotional role, offering sensitive listening, welcoming, and understanding
of suffering in its social context—reafrming SUS as a space for integral and
humanized care. Thus, the Family Health Strategy stands as the beating
heart and the living soul of SUS, essential to building a more equitable and
resolute health system for all Brazilians.
Resumo
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988 marcou um
divisor de águas no Brasil, consolidando o cuidado em saúde como
um direito universal e dever do Estado, fundamentado nos princípios
da integralidade, universalidade e equidade. A Estratégia Saúde da
Família (ESF), implantada a partir de 1990 com a NOB 96, emergiu e
continua sendo o eixo central da Atenção Primária à Saúde (APS),
promovendo transformações locais através do vínculo, escuta ativa,
prevenção e promoção da saúde. Este editorial explora o papel
multifacetado da ESF no cuidado em saúde brasileiro, analisando seus
métodos de implementação, os impactos observados nos indicadores
clínicos e os desaos persistentes. Evidencia-se que a APS, com sua
atuação multiprossional e territorializada, tem sido crucial na redução
de internações evitáveis e na melhoria de indicadores de saúde,
como a expectativa de vida. Contudo, desaos como as acentuadas
desigualdades regionais persistem, com o Norte e Nordeste do país
apresentando indicadores socioeconômicos signicativamente inferiores
e taxas de pobreza até quatro vezes maiores, impactando negativamente
o acesso e a continuidade do cuidado. A descentralização da gestão
municipal e a informatização, exemplicada pelo Prontuário Eletrônico
do Cidadão (PEC), representam avanços importantes na qualicação
EDITORIAL
SAÚDE DA FAMÍLIA: O CORAÇÃO PULSANTE E A ALMA DO SUS.
FAMILY HEALTH: THE BEATING HEART AND SOUL OF SUS.
1 Centro Universitário Dom Bosco. Curso de Medicina.
São Luís – Maranhão, Brasil
2 Rede Nordeste em Saúde da Família/Universidade
Federal do Maranhão (RENASF/UFMA). Discente de
Doutorado Profissional em Saúde da Família. Brasil
3 Universidade Federal do Maranhão. Centro de
Ciências de Imperatriz (CCIM). Programas de Pós-
graduação em Saúde da Família (PPGSF) e Saúde e
Tecnologia (PPGST). São Luís – Maranhão, Brasil
ORCID ID:
Cicero Newton Lemos Felicio Agostinho:
orcid.org/0000-0002-5658-3749
Marcelino Santos Neto:
orcid.org/0000-0002-6105-1886
*Corresponding author: Cicero Newton Lemos
Felicio Agostinho
E-mail: cicero.agostinho@undb.edu.br
Cicero Newton Lemos Felicio Agostinho1,2*, Marcelino Santos Neto 3
Este artículo está bajo una
licencia de Creative Com-
mons de tipo Reconocimien-
to – No comercial – Sin obras
derivadas 4.0 International.
Received: 23 – Mar – 2025
Accepted: 30 – Jun – 2025
Publish: 05 – Jul – 2025
Article history
Conflict of interest: The authors were free to
prepare the manuscript and there were no potential
conicts of interest.
CRediT – Contributor Roles Taxonomy:
Conceptualización, Curación de datos, Análisis formal:
CLFA; Investigación, Metodología, Visualización,
Redacción – borrador original, Redacción – revisión y
edición: CLFA, MSN.
Financial disclosure: The authors have no nan-
cial relationships relevant to this article to disclose.
Palavras-chave: Saúde da Família; Atenção Primá-
ria à Saúde; Sistema Único de Saúde; Humanização da
Assistência.
Keywords: Family Health; Primary Health Care;
Unied Health System; Humanization of Assistance.
DOI: 10.48018/RMVv36i1e
Revista Médica Vozandes
Volumen 36 , Número 1, 2025
Citation: Agostinho CN, Santos M. Saúde
da Família: o coração pulsante e a alma do
SUS. Med Vozandes. 2025; 36 (1): 9 - 12
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desfechos clínicos positivos dessa estrutura são evidentes
na redução de internações evitáveis, principalmente
por agravos crônicos como hipertensão e diabetes.3,4
No entanto, alguns desaos persistem e caminham
em direção contrária ao avanço tecnológico, como
a queda na cobertura vacinal, o enfrentamento às
doenças infecciosas e a ampliação do acesso.5
Nesse contexto, as desigualdades regionais representam
um dos maiores desaos estruturais do Brasil,
impactando diretamente a efetividade das políticas
públicas de saúde. A distribuição de renda entre as
macro e microrregiões do país é marcada por fortes
assimetrias, com no caso das regiões Norte e Nordeste,
que apresentam indicadores socioeconômicos
signicativamente inferiores aos das regiões Centro-
Oeste, Sul e Sudeste. Essa discrepância se expressa
em taxas de pobreza que podem ser até quatro vezes
maiores, além de maiores níveis de analfabetismo
e de informalidade no mercado de trabalho,
conforme dados do Instituto Brasileiro de Geograa e
Estatística (IBGE). Tais desigualdades socioeconômicas
comprometem o acesso e a continuidade do cuidado
em saúde, inuenciando negativamente os indicadores
de saúde e evidenciando a necessidade de políticas
públicas que considerem as especicidades territoriais
para promover a equidade no SUS em todo o país.6
Métodos
Este editorial propõe uma reexão sobre o papel atual
da ESF e seus desdobramentos no cuidado em saúde,
considerando os métodos de sua implementação,
os impactos observados nos indicadores clínicos e
as barreiras que ainda limitam sua adoção integral
em todo o território nacional. Mais do que ampliar a
cobertura, é preciso compreender como a presença
das equipes multiprossionais e o vínculo territorial
inuenciam diretamente nos desfechos clínicos e na
efetividade do cuidado. Nesse sentido, é urgente
fortalecer a formação, a estruturação das redes e
a integração com a comunidade, para que a ESF
continue sendo não apenas o coração pulsante, mas
também a alma viva do SUS.
Resultados/discussão
A Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha papel
estruturante na organização das redes de cuidado do
SUS, sendo reconhecida como a principal e, muitas
vezes a primeira, porta de entrada da população ao
sistema de saúde e como eixo estratégico para ampliar
o acesso e a resolutividade no território. A Política
Nacional da Atenção Básica (PNAB), em sua versão
mais recente, reforça a importância da atuação
multiprossional em território adstrito, com foco na
gestão qualicada e na integralidade do cuidado. Os
SAÚDE DA FAMÍLIA: O CORAÇÃO
PULSANTE E A ALMA DO SUS. Felicio Agostinho C, et al.
Revista Médica Vozandes
Volumen 36 , Número 1, 2025
do registro e gestão do cuidado, mesmo com a necessidade de
capacitação contínua. Além do aspecto biomédico, a ESF desempenha
um papel afetivo e psicossocial insubstituível, oferecendo escuta sensível,
acolhimento e compreensão do sofrimento em seu contexto social,
rearmando o SUS como um espaço de cuidado integral e humanizado.
A Estratégia Saúde da Família, assim, congura-se como o coração
pulsante e a alma do SUS, essencial para a construção de um sistema de
saúde mais equitativo e resolutivo para todos os brasileiros.
Introdução
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, foi um marco
histórico na forma como o Brasil passou a enxergar o cuidado em
saúde: como direito de todos e dever do Estado. Inspirado nos princípios
da integralidade, universalidade e equidade do cuidado, o SUS foi
gradualmente ganhando corpo e alma nas regiões do território brasileiro.
Em 1990, com a consolidação da Atenção Primária como política
nacional, especialmente por meio da NOB 96, o país caminhou em
passos rmes e decisivos ao instituir a presença dos Agentes Comunitários
de Saúde (ACS) e ao implantar a então nascente Estratégia Saúde
da Família (ESF), sementes que germinaram pelas comunidades,
transformando realidades locais com vínculo, escuta ativa, prevenção e
promoção da saúde.1
Embora a Constituição Federal tenha estabelecido um sistema público
de saúde universal e gratuito, a implementação do SUS despertou a
articulação entre instituições públicas e privadas. Nesse contexto, o
princípio da universalidade assegura o acesso de todas as pessoas aos
serviços de saúde, isento de discriminação de qualquer natureza. a
equidade, mais do que tratar todos igualmente, implica reconhecer que
diferentes contextos exigem diferentes respostas e que o cuidado em
saúde deve ser sensível a essas diferenças. Por m, a integralidade propõe
uma abordagem ampliada do cuidado, reconhecendo a complexidade
do ser humano em suas dimensões biológica, psíquica e social.2
11
EDITORIAL
Revista Médica Vozandes
Volumen 36 , Número 1, 2025
A responsabilidade pela gestão, organização e oferta dos
serviços de APS no Brasil é descentralizada entre os 5.570
municípios. O SUS, enquanto modelo público e gratuito de
saúde, promove uma atenção integral, que vai além das ações
preventivas, estruturada a partir de equipes multiprossionais
da Saúde da Família, com foco na promoção, prevenção,
tratamento, reabilitação e cuidado contínuo no território. Essa
conguração organizacional reete princípios contemporâneos
de cuidado em saúde, centrados na atuação integrada de
prossionais com competências diversas. O fortalecimento
da APS tem favorecido uma maior proximidade dos serviços
com as comunidades e os usuários, facilitando o acesso em
nível local e, principalmente, levando saúde e cuidado dentro
de cada lar. A implantação da Estratégia Saúde da Família
(ESF), reconhecida como uma das maiores iniciativas de
atenção primária de base comunitária do mundo, contribuiu
signicativamente para ampliar a cobertura da população,
além de melhorar indicadores como a redução da mortalidade
infantil, o acompanhamento da saúde materna e a queda
nas internações por causas evitáveis. Como resultado, o Brasil
apresentou um avanço notável na expectativa de vida ao
nascer nas últimas décadas, em ritmo superior ao de muitos
países membros da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).7
Nos últimos anos, a informatização da Atenção Primária se
consolidou como um dos grandes avanços estruturantes do
SUS, tendo no Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) uma de
suas principais ferramentas para qualicar os registros clínicos,
integrar informações e potencializar a análise de dados para
a gestão do cuidado. Desde sua implantação em 2013, o
PEC e-SUS tem ampliado seu alcance de forma signicativa,
passando de pouco mais de 8 mil UBS informatizadas em 2017
para mais de 26 mil em 2022.8
Esse crescimento expressivo, especialmente em regiões
historicamente pouco assistidas como o Norte e o Nordeste
do Brasil, demonstra o potencial da tecnologia como aliada
na qualicação do cuidado. O uso do PEC tem permitido a
integração de informações clínicas, a padronização dos
registros e o fortalecimento da análise de dados para tomada
de decisão em saúde. Além disso, funcionalidades como o
módulo de busca ativa, o atendimento pré-natal estruturado
e a agenda online têm qualicado o acompanhamento
de grupos prioritários e ampliado o acesso. É necessário
intensicar a capacitação contínua das equipes para o uso do
sistema, considerando as atualizações frequentes e as novas
funcionalidades que são incorporadas a cada versão, isso
signica investir na sustentabilidade de um SUS mais conectado,
resolutivo e centrado nas pessoas.9
Para além das métricas e indicadores, é preciso reconhecer
que a Estratégia Saúde da Família não atua apenas no campo
biomédico, mas também ocupa, de forma ímpar, um lugar
afetivo na vida das pessoas. O cuidado prestado pelas equipes
frequentemente se materializa por meio da escuta sensível e da
presença cotidiana, em um território marcado por ausências
históricas, por dores físicas e mentais e pela indiferença ao
cuidar. Ouvir com o estetoscópio é necessário, mas ouvir com
o coração é essencial. A ESF é o coração pulsante e a alma do
SUS. Em comunidades e lares atravessados por
dores e por falta de olhares que não cabem em
protocolos, a esperança se renova na forma de
visitas domiciliares, de uma escuta qualicada ou
de uma conversa debaixo de uma árvore com os
pés na areia. Estudos qualitativos com prossionais
da APS revelam que o cuidado psicossocial,
baseado no acolhimento, matriciamento, na
construção de vínculo e na compreensão do
sofrimento em seu contexto social, é um dos
pilares para transformar realidades.10,11 Fortalecer
essa dimensão humana da APS é rearmar o SUS
como espaço de cuidado integral.
Por m terminamos ressaltando que compreender
a Estratégia Saúde da Família é, antes de tudo,
reconhecer que ela ultrapassa os limites da
política pública, ela é um chamado. Trabalhar
na Atenção Primária do SUS é mais do que
exercer uma função técnica, é um verdadeiro
privilégio. É estar diante da vida em sua forma
mais genuína, é tocar mãos cansadas com
respeito, oferecer um abraço que acolhe
silenciosamente dores invisíveis e escutar com
o coração aquilo que nem sempre as palavras
conseguem dizer. É ser convidado a entrar no
espaço mais íntimo e sagrado das pessoas, seus
lares, e ali partilhar histórias, fragilidades, alegrias
e esperanças. Acompanhar o pré-natal de uma
gestante e depois seguir cada etapa da vida
daquela criança, desde o primeiro choro até
os marcos do desenvolvimento, as vacinas, os
sorrisos, as lágrimas, a puberdade e, nalmente, a
chegada à vida adulta, é testemunhar o milagre
da existência em movimento. Por tudo isso, a ESF
não é apenas uma estratégia de cuidado, ela
é uma escolha de vida. É essa vivência, plena
de sentido, que nos motiva e origem a este
editorial: uma carta de amor silenciosa a um SUS
que pulsa em cada território, em cada vínculo
construído, em cada cuidado ofertado com
dignidade e humanidade.
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